Era 17h30 da tarde.
Lola veste shorts jeans e um blusão bege que caí em seus
ombros; sapatilhas super discretas. Seus óculos carregam a intelectualidade de
que se orgulha, e o mesmo escorrega suavemente no contorno de seu nariz. Toda
atrapalhada: bolsa, celular – com fones de ouvido disparando Numb do Linkin Park -, garrafa d’agua e
um caderno nas mãos. Uma equilibrista material. Com um passe de estudante nas
mãos, corre para pegar o ônibus.
Desce do ônibus.
Entra no prédio e depois na sala e senta. Liga seu notebook
e abre o texto da aula e começa a ler. Desligara-se facilmente no contexto.
Pouco fala, e pouco percebe o seu arredor, principalmente com que acontece dentro dela mesma.
Ela não tem consciência profunda quando sua vida não está
bem, mas tem sensações de que algo está errado, talvez por má sorte ou culpa do
acaso. Adormecera em si mesma, e ignorara levantamentos de indagações. Além
disso, achara que somente os fatores externos eram os culpados pela sua
infelicidade: as pessoas ao seu redor, a cidade em que mora, o governo, o tempo
e etc.
Ela não percebia o sofrimento que gerara para si. Não sentia
o mundo real. E tudo ia se aglomerando em Lola de uma forma inconsciente, até
chegar a um ponto que não se sentia mais, pois que já se acostumou com tal
situação. A estudante estava consumida diariamente pela ansiedade, para
resolver problemas lógicos, e isso a deixara em desiquilíbrio emocional. Claro,
sem ela saber, ou ter apercebimento disso. Já que dava mais atenção ao
racional.
Lola achava que se afundando em seus estudos e tomando
atitudes que me parecessem mais lógicas, ela encontraria as soluções. Não
percebia os erros que cometia, em se tratamento da vida afetiva, e sofrimento
surgia. Isso ela sentia friamente.
Em casa ela fazia favores para seus familiares e não percebia
o aproveitamento exagerado dos demais, quanto a sua intelectualidade, em querer
prestar sua atenção às coisas do tipo. As ideias prolixas e doentias que um o
outro contava, no trabalho, e eram conversas com energias de assuntos imaturos
e sem razão de se estender. E na faculdade, o cansaço mental dos professores e
alunos, quanto à enxurrada de textos a serem lidos e mais lidos. Lola queria
absorver o máximo possível, nada era exagero, nada era de menos, tudo estava
normal pra ela, salvo aquela sensação de erro lá no fundo de sua alma que ela
se recusava a entender.
Vivia dando desculpas ao namorado que tinha que estudar,
mesmo sentindo muita saudade dele. Não só, aos seus amigos, aos familiares e a
vida social, quando se tratara de emoções. O importante para ela era o
intelectual, o emocional ela deixava de lado, já que não sabia como entender
essa coisa. Ela tinha problemas de autoestima sem saber que tinha. Em vagas
horas do dia ela se deixava pensar em nada. Faltava alguma coisa, mas ela não
se interessava em saber.
22h55 ela chega a casa, toma um banho, come algo e vai ler
antes de dormir, é algo sobre a aula de Filosofia que ela não havia racionado
direito. O celular toca e é o gato manhoso dela, que ignora a ligação e volta
para sua leitura que está mais interessante. Por volta das 23h49 deita e tenta
dormir.
Seus sonhos são justamente aquilo que reprime. Ela chora em
seus sonhos todos os dias, não sabe se sente raiva, medo, angústia ou qualquer
outro sentimento. Acorda lá pelas 03h57 da madrugada. Lola não ora, não sabe
mexer com as energias superiores. Levanta e faz chá de camomila. Cai na cama e
logo dorme de novo. E todo dia isso acontece. Ela não sabe que sofre de
analfabetismo emocional.
A garota não sabe lidar com os sentimentos, vive adormecida
em seu recôndito medo. Ela traz sentimentos negativos que vão sendo criados por
seus sentidos, dai se cria as doenças físicas, as energias fragmentadas que
ecoam dentro e estragam os órgãos.
Lola tem problemas como: pressão alta, diabetes e alergias.
Mas ela acha que esses problemas de saúdes são porque sua mãe tem, a sua avó e
seu pai. Ela não sabe detectar jogos de manipulação familiar, padrões negativos
repetitivos, autoestima baixa. E tudo isso influencia demais em suas escolhas,
que tendem a ser resolvidas sempre de forma lógica e prática.
No dia seguinte, lá pelas 22h15 seu namorado liga e ela
atende:
- Até que enfim!
- Oi amor, como vai?
- Eu vou bem, mas acho que você não.
- Como assim? Eu tô ótima! Por que achas que não tô bem?
- Faz um mês que tô tentando falar contigo e nada. Tá me
ignorando?
- Claro que não, é que tô com muito trabalho para fazer da
faculdade. E também tem meu trabalho que me consome. Tu sabes muito bem disso.
- Tu vives nesse mundo intelectual e não se dá conta de que
sofre de analfabetismo emocional!
- Como assim, O que é isso?
- Pesquise, já que você gosta de estar bem informada.
- Vou fazer isso.
- Faça! E depois nos falamos.
E desliga o celular.
A boa educação formal e a caseira não ajudara nesse aspecto
quebradiço da sua vida. Pois a maioria tem analfabetismo emocional e não sabe.
Principalmente o desequilíbrio emocional familiar, o que gera uma corrente
negativa, da qual afeta a pessoa que não tem consciência do que está
acontecendo. De que é o interior que precisa ser modificado e não o exterior.
Lola pensava que era seu exterior.
Ela então fez uma série de pesquisas: percorreu a internet;
recorreu aos profissionais na universidade, e não se convenceu do que se
namorado afirmara. Seu ego defende a posição de vítima. O orgulho é maior. Ela
não se permite enxergar de forma humilde o porquê do erro. E também, ignorara
em todos os momentos o que é raiva, culpa e frustação, não percebia as
manifestações físicas por causa das emoções. Vivia com dores de cabeça e achava
ser culpa externa, mais uma vez.
Alguém sempre vai ter que falar. A “vítima” nunca vai dizer
que tem o problema. Mas, dentre todas essas aglomerações de sentimentos sem
questionamento, uma hora explode, e com Lola não foi diferente.
00h35 Lola começa a ficar sem ter o que pensar. Seu coração
deslancha. Olha para o celular e disca o número do seu namorado, ele não
atende. Liga de novo, e ele atende.
- Oi Lola.
- Por favor, me ajude a entender isso, eu não consigo.
Sua voz estava arrastada e carregada de choro.
- Estou indo aí. Até que enfim você pediu ajuda.
Desliga o telefone e senti um alívio percorrer todo aquele
estado de ansiedade que a dominava sem ela perceber.
Depois de algum tempo ele chega.
Ela abre a porta e pergunta.
- O que eu preciso fazer primeiro?
- Praticar o autoconhecimento. Só assim reconhecerá suas
emoções boas e ruins. E mais importante, usar os sentidos para ler a vida.
Podemos começar?
- Podemos.
Finalizou Lola.
Gisele Regina