sexta-feira, 25 de julho de 2014

Brincando com as Letras


 


As Letras
tem
gosto
cheiro
forma
som
cor
sensação
emoção
...
No pintar
no escrever
no desenhar
no ler
no atuar
no cantar
No sentir
No amar
No odiar
...
As Letras
atuam no
ar puro
verde singelo
natureza fresca
No branco cabelo
No rabo do gato
No computador
Na arquibancada
E nas bocas alheias.
...
Letras traduzem
pensamentos
quietude
o café
a paz interior
o sol
os pássaros
o sinal vital
eloquência
discursiva.
Monografias.
...
As Letras
falam da
terra
céu
chuva
vento
Tempestades
Arco-íris
Mar
Silêncio
...
As letras
enfatizam
a
Loucura
paixão
rebeldia
orgulho
tranquilidade
vaidade
honestidade
razão
emoção
...
As letras
trabalham
dão vida
ao nada
dão letras
ao som,
do clássico
aos ouvidos.
...
Enfim
elas
tecem
configuram
organizam
e movimentam
moralmente
espiritualmente
intelectualmente
e, materializam
todas as
linguagens
verbais
e não verbais.

Gisele Regina.

AS ATRIBUIÇÕES DA ARTE NA EXISTÊNCIA HUMANA

(Doutores da alegria, Os Doutores da Alegria tem como missão promover a experiência da alegria na adversidade por meio da arte do palhaço. Desde 1991, atua junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais da saúde, colaborando para a transformação do ambiente onde se inserem, wikipedia).

AS ATRIBUIÇÕES DA ARTE NA EXISTÊNCIA HUMANA

Estive pensando sobre questões existenciais e o papel da arte em nossas vidas. Você pode está se perguntando; qual é a relação entre ambos? O que vou escrever é apenas uma tentativa, um esboço literário, uma provocação. Sem pretensões que seja um ensaio, tampouco artigo.
  Para atender a pergunta introdutória eu direi intuitivamente que a arte tem a função de preencher parte de nosso vazio existencial que as nossas relações interpessoais (amizade, namoro, casamento etc.) não são capazes de preencher. Quando falo arte, este conceito é mais expansivo do que muitos possam imaginar, refiro-me não apenas a arte em si, mas também a literatura, a música, o belo, o sublime, etc. Quem nunca sentiu um prazer sublime lendo um bom livro, ouvindo aquela música? Quem é capaz de dizer que os “grandes” poetas não contribuem para tonar nossa existência mais bela e contente? . Vezes o que precisamos não é necessariamente a companhia de alguém, mas simplesmente ir sozinho a uma exposição de artes, assistir um bom filme, está consigo mesmo não significa solidão "se você sente tédio quando está sozinho é porque está em péssima companhia" ( Sartre). Não estou pregando um individualismo solitário, apenas para tornar mais nítido o que estou dizendo, pois alguns poderiam dizer que seria apenas um pretexto para se ter a companhia de alguém, embasando a relevância da Arte. E isso também não implica que não possamos viver esses momentos felizes proporcionados pela arte com amigos ou um grande amor. Entenda o que eu digo. Pois através da arte podemos nos comunicar com o outro através de nossos sentimentos, da manifestação daquilo que é mais intrínseco a nossa essência de ser. Gerando um diálogo, uma comunicação de coração para coração.
  Talvez pensando nisso que Ludwig van Beethoven certa vez disse “a música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria”. Arte implica em criação, arte implica em empirismo, afeições dos sentidos, que são nossos sentidos mais básicos da existência humana; a sensibilidade. As tragédias clássicas da Grécia antiga refletiam elementos da vida codiana das pessoas, seus anseios, suas paixões, vontades. Não obstante os Deuses possuíam de certa forma características humanas, vícios, paixões... A arte imitando a vida e a vida imitando a arte, uma confluência de fluidos da vida. A vida é manifestação, vida não é conceito.
  Quando procuramos preencher nosso vazio existencial apenas nas relações intersubjetivas parece-nos que algo fica faltando, um sentimento de incompletude. Penso que possa está faltando um pouco de arte para você colorir a vida. Se olharmos também numa perspectiva espiritualista, veremos que a tradição religiosa se apropria muito da arte, com seus símbolos, significações, manifestações de ser. Embora existam suas distinções. A arte também possui uma dimensão metafísica assim como o espiritualismo, pois ao mesmo tempo em que faz parte de nossas sensações exige certo desprendimento, reclama elevar-se a uma instância superior para contemplação, espanto, maravilhamento. O sublime pode causar desconforto, mas quando ultrapassado a zona de desconforte vem a alegria, o belo traz em si uma espécie de harmonia, calma, tranquilidade disse Kant. O desconforto e a harmonia são coisas corriqueiras a nossa existência e bem presentes na arte. Quem não sente espanto diante de uma expressão artística de Rembrandt ou harmonia e suavidade diante de um campo na primavera ou a melancolia do outono?
Assim, uma vida sem expressões da arte impressa na alma é como uma folha seca no outono ao sabor do vento. Levemos nossas crianças ao cinema, lermos bons livros à elas, pois a educação bem orientada podem obter da arte muitos prazeres. A arte está acessível não apenas o homem “letratado, culto” está presente na vida do homem do campo (seus costumes, forma de vida), do homem da favela, do homem do asfalto. Não vejo a necessidade de escravizar economicamente o próximo para dedicar-me ao ócio fecundo que a arte proporciona e enriquece a vida humana em sua infinita possibilidades. Que arte venha cultivar em nossas vidas o sentido da vida, que com ela possamos manifestar os nossos sentidos, emoções, paixões. E que ela nos indique uma estrada, seja na planície ou abeira do precipício. Garanto que a razão saltará de alegria, que a existência tornar-se se há mais feliz. É isso aí.

Rodrigo Brito



quarta-feira, 23 de julho de 2014

O inquilino



Antes dele outros inquilinos locaram o lugar
Deixando as paredes sujas com marcas de pés
Teto cheio de goteiras. Descaso total.
Confesso que chegaram pessoas interessadas
Em fundar ali morada, mas a casa estava em condições precárias.
Pra ser sincero decadente, telhas de aranhas no teto e por aí vai.
Não favorecia o mínimo de hospitalidade
Com más condições para a existência humana.
Quem ia querer ali morar? Deixando desprotegida
E sem abrigo a sua família!
Sem o mínimo de conforto e comodidade.
Apesar de que não era descaso apenas do proprietário
Quem passava com frequência por aquela rua
Recorda que a casa era formosa, até um jardim
Adornava a entrada.
Não sei se ele foi o maior culpado, os residentes
Que ali passaram tiveram sua parcela de culpa.
Mas se bem que sendo o maior interessado
Nada mais sensato que fazer visitas rotineiras
E eventuais reparos
Expulsado de lá os inquilinos fanfarrões.
Mas como diz o ditado
"Brasileiro só fecha a porta depois da casa roubada”.
Chegou um momento que eu estava cansado de tudo aquilo
Vivia recebendo cartas com boas recomendações
Até fiadores. E o resultado foi o que eu te disse.
Resolvi então chutar o pau da barraca
Ninguém mais iria morar ali, fodam-se todos.
Pois como diz outro adágio popular
“De boas intenções o inferno está cheio”
De boa então, dias se passaram e recebi uma ligação
Um sujeito chamado Amor tinha se interessado pelo
Imóvel, eu disse então que estava fechada para balanço.
Dois dias se passaram e de novo outra ligação
Na semana seguinte toca o telefone e quem era do
Outro lado da linha? Isso mesmo, o bendito.
Eu já não aguentava tantas ligações e pensei
Vou apresentar o imóvel pra essa criatura
Pois garanto quando ele entrar lá, nunca mais
Vai me incomodar. Assim o fiz.
Adentramos a casa, logo vi o olhar de espanto
E ri comigo mesmo. Mas não é que o indivíduo
Quis mesmo assim!?

Respirei fundo:
Abri as portas de minha casa
Afastei-me um pouco pro lado; cedi licença.
E gentilmente o amor adentrou meu lar
E foi fazendo ali morada.
Foi um ato de bravura.
E vi que antes de tudo é preciso
Dar uma chance a si mesmo.
Sem dar uma chance a si mesmo
Mesmo diante dos reveses da vida
O amor torna se incomunicável.

Rodrigo A. Brito