Eu sempre tentei imaginar o que se
passava lá em cima, no céu - sem entender que o céu era realmente o estado de
felicidade e harmonia interior - tentada a sair da realidade que me cercava. Em
minha mente brincavam ideias que não se interligavam entre si, não havia
coesão, nem coerência, algo sem sentido. Muitas perguntas sem respostas.
Todavia, se encontrariam em algum momento ou não, as respostas, em buscar fazer
sentido e, eu estava ali para isso. Tentando entender o que estava acontecendo
comigo e o mundo a minha volta.
Minha face trazia um cansaço taciturno, exaurido de tantas lamentações
alheias. Meus ouvidos eram como psicólogos gratuitos, e que nunca pediam nada
em troca. Apelei para o mundo do equilíbrio e para o mundo de valores. A
paciência, minha companheira constante, dava-me suporte nessas horas. Pessoas
lamentavam insatisfeitas com suas vidas sem agradecer o fato de estarem apenas
vivas. Sei que todos precisam desabafar, eu não acho ruim o fato de ser o
ouvido desses desabafos até porque eu sei que esses problemas não são meus só
preciso ser emprestada, mesmo nem sempre recebendo um simples obrigado depois.
Faz parte.
Penso que, como de forma costumeira o indivíduo sempre vai pelo caminho
mais fácil, o de culpar as pessoas em primeiro lugar por suas frustrações. Eu
acredito que quando não dá certo é porque não é para ser. Eu não escandalizaria
e nem culparia ninguém, pois a ideia de insistir seria minha. Das
interrogações, uma é sempre a mesma: por que nada dá certo? A pergunta pioneira
que nunca sai do lugar. Mas dá certo sim, até quando dá errado, porque o errado
nos mostra que não é o caminho certo e assim, continuemos.
Por que eles são tão equivocados e imaturos? Por que eles não pensam
antes de agir? É talvez o medo de não estarem certos daquilo que faz parte do
seu saber no que dizem e se equivocam tentando mudar a cabeça dos
questionadores imaginários que nada disseram? Questionamentos do mundo. Os
indivíduos têm jeito repressivo, alguns optam por conhecer a suas ideias inatas,
outros, se baseiam apenas nas experiências tradicionais. E, ainda outras, têm
preguiça e não fazem nada á respeito.
Quantas vezes o cego vai ter que explicar que não sabe definir sobre a
luz da verdade? Ou não enxerga a realidade como ela é ou finge que é cego para
não ver aquilo que de fato terá que fazer um esforço para conhecer. Porque o
mundo das aparências é o mundo das sombras a qual ele vive acorrentado pelas
algemas da sua ignorância. Prisioneiro de seus preconceitos e opiniões sobre a
suposta realidade. E as ações humanas constituem a sua cultura porque não
nascem com ele, e sim da trajetória de vida que seus ancestrais impunham á ele
de aceitar.
E quem busca a verdade? Mais fácil
viver como os homens do “Mito da caverna” que retratou Platão. A escuridão era
acolhedora a qual já conheciam e viveram a vida inteira ali e, só imaginam a
realidade. A luz da verdade poderia lhe causar espanto por ter que aprender a
ver como ela é e esse aprendizado poderia lhe custar talvez o esforço máximo
chegando a ser árduo. Sacrificante.
Quem admite que seja ignorante? Todos
querem ser o dono da verdade sem ao menos conhecer o que de fato é a verdade.
Sem ao menos saber o que significa as palavras que usam para especificar algo
ou alguém. Não sabemos de nada e quanto mais nós estudamos menos sabemos.
Por que os humanos confundem tanto a
utopia e a verdade? Conhecer aquilo que está dentro de si é mais difícil,
porque aquilo que já existe dá uma base para conhecer a realidade. Conformismo.
Devemos nos conformar só com o que vemos? Existem pessoas tão apressadas que
nem se dão o prazer de passar por um processo de conhecimento, só querem
resultados, querem tudo para ontem. Não vivem, vegetam. Não conhecem o que
dizem, simplesmente falam porque é tradição e está nos registros falados e
escritos dos ancestrais dizer aquilo e pronto, sem ter um conhecimento racional
do que de fato é.
Sócrates deve ter dito que nós
procuramos muito na escrita as respostas, sendo que as recordações iam sumindo
da memória e assim, iam perdendo muito do seu saber, de conhecer a si mesmo e
argumentar sobre todas as coisas. Sabiam somente o que já existia. E a escrita
foi passando adiante, por todos, sem saber qual deles era o mais desprovido de
conhecimento do que o mais intelectual. Que as fraquezas humanas advêm somente
do medo que as domina sem se deixar buscar as respostas. O homem pede a
satisfação dos próprios desejos e não pede para ter o que seria melhor para
ele. Enumera aquilo que ele acha que vai ser importante para a sua felicidade
sem conhecer de fato o que ele precisa de verdade e sem saber o que é a
felicidade. E nem sabe o que precisa para viver. Esquecer-se da prática no bem
que os leva a virtude. Fácil? Pode até ser, mas enquanto a dupla dinâmica: o
orgulho e o egoísmo, formarem a essência da consciência humana, não haverá
verdades a serem descobertas. Nem por meio de ideias inatas que é a mais
difícil, sem precisar de dogmas ou livros para consultas do que ele procura. O
levando a reflexão e nem as ideias empíricas as que já existem, como apoio ao
entendimento da realidade.
Eu me debruço pela janela então, após
essa cachoeira de pensamentos e, olho o mar calmo e o comparo com o ser humano.
Há muitos mares que parecem iguais e que, são feitos da mesma água, mas que em
sua profundidade há coisas que desconhecem porque não exploram. Como conhecer a
si mesmo, questionar o mundo, saber o que é a beleza da lua, do sol, do céu, e
claro, do mar.
Quem tem coragem de despir-se de seus
preconceitos e valorizar a criança interior que têm? É fácil esconder o
etnocentrismo que mora dentro de cada um: medo de dizer que se repudia o
diferente e que seu modo de ser é normal e os dos outros não. E que a cada vez
que se depara com o diferente, mesmo que isso seja da natureza humana na
diversidade cultural, ainda julgam e não sabem respeitar as diferenças. Insiste
naquilo que não pode mudar.
Pois bem, lembrei-me dos pensadores
filósofos da história que, discordavam de suas teorias entre si. O pensamento
cartesiano, por exemplo, defendia a ideia de ser a mente que pensa, pois se
pensa, logo existe. Simboliza a clareza das ideias inatas. Em contraposição, o
empirismo que outros pensadores, como exemplo, Bacon, que concordava que é a
experiência que guia a realidade, não havendo a possibilidade de existir uma
realidade “antes” da experiência. Hume que era cético e que dizia que somos à
força do hábito, costumes e memórias e que não há um conhecimento certo ou
definido. Cada um defendendo as suas ideias e questionando.
Ninguém é dono da verdade, pois ela
não pertence á ninguém, passa de mente em mente. Quem busca incansavelmente a
verdade das coisas vai ter alguma mudança de atitude. Para isso acontecer é que
devemos questionar e não mais esconder as crenças silenciosas dentro de si por
medo de estar errado. Onde há humano, há erro.
Contudo, argumento, sou livre quando
domino a minha vontade ou me obrigo a aceitar o que a minha sociedade
determina? Mudemos nossas perguntas então, ao invés de perguntar “Que horas
são?”, perguntemos “O que é o tempo?”. E talvez isso mudaria muita coisa. As
pessoas sentem-se impelidas a indagar qual é a origem, o sentido e a realidade
de nossas crenças.
Gisele Regina